Alvarelhos Pré-Romano

Poderemos com verdade falar de Alvarelhos pré-romano? Disso não temos quaisquer dúvidas, a avaliar pelo elevado número de antas existentes nesta freguesia. Aquando da sua passagem por esta região, os romanos, com o intuito de se apoderarem dos objectos neles contidos, violaram os túmulos sagrados. A este propósito, escreveu o Abade Sousa Maia, que durante anos calcorreou os caminhos, montes e vales de Alvarelhos:

"Os Calenderes, de picaresca memória, que existiram em Alvarelhos, no meado do século 19, sonhando com um diamante monstro e revolvendo tudo para encontrá-lo, não foram mais do que continuadores da obra de destruição iniciada pelos representantes do povo rei; nessa obra tinham já colaborado também os visigodos, como parece provar-se pelos fragmentos de cerâmica da própria indústria, deixados entre os restos do mobiliário do homem pré-histórico, quando procederam de certo a novos remeximentos. Mas o que veio pôr o remate a tudo foi a contenda levantada na Idade Média, entre o rei e os grandes senhores, que mal podem ser desculpados pela insciência demonstrada no arrasamento de preciosos monumentos, como aquele que existia em Alvarelhos, e de que ficou memória na seguinte passagem das Inquirições:


'… O termo de Cidoy partia com orregueengo dellrrey daluarelhos pella Anta que estaua so (sob) Cidoy anteque cheguem aorryo a qual derribáron os caualleyros depois que andarom em demanda com ellrrey sôbrella jgreia'.


Efectivamente foi esta anta de tal modo derribada, que dela nenhum vestígio ficou, a não ser no onomástico, o qual dá, entre Cidoi e o lugar de Sá, um terreno denominado a Mámoa, que tenta o investigador a localizar ali esse monumento destruído.
Além desta, muitas Antas, como ficou dito, existiam em todo o termo de Alvarelhos. Algumas ainda se vêem, quasi desfeitas, na parte inculta do terreno, mas inexploradas, e sobretudo no alto da Serra de Santa Eufémia, principalmente no Monte Grande, já foram esploradas, na maior parte, pelo Dr. Félix Pereira, do Museu Etnológico de Lisboa, por Ricardo Severo, da Portugália e por quem escreve estas linhas; mas os resultados dessas investigações scientificas estão ainda inéditos.

Sabendo-se, não obstante, que, nessas escavações, apareceram cacos de louça grosseira trabalhada à mão, sem auxílio de roda de oleiro, objectos de pedra polida, de sílex e grande quantidade de mós, sobretudo numa antela do Monte Grande, que mais parecia uma fábrica que uma jazida, pode formar-se alguma ideia do viver do homem pré-histórico de Alvarelhos, desse homem que, num estado semi-selvagem, já se empregava na agricultura, já principiava portanto a lançar raízes na terra em que fixaria residência permanente, deixando a vida nómada e agitada para se ocupar mais dos seus rebanhos, da construção de abrigos que o livrassem das intempéries e lhe dessem mais um pouco de comodidade".
Do exposto por Sousa Maia podemos indiscutivelmente concluir que os primeiros habitantes de Alvarelhos tinham já uma (embora obscura) noção da imortalidade e, por isso, colocavam junto dos mortos os objectos utilizados nesta vida, para que, no além, o defunto os pudesse utilizar. Poderemos mesmo falar de um certo culto religioso!
Importa ainda realçar que não foi fácil a vida dos primeiros habitantes de Alvarelhos, pois que, além do desconforto tão característico daqueles tempos, teve que lutar permanentemente com aqueles que lhe disputavam a posse da terra e lhe usurpavam os rebanhos.
Sabemos contudo que, nessas lutas, empregou o machado de pedra polida, com o qual afugentava o inimigo e se defendia dos invasores. Podemos, sem dúvida alguma, afirmar que Alvarelhos é um povoado pré-romano. Por isso, as suas origens remontam à Idade do Ferro, representada pelo povoado fortificado, posteriormente romanizado, mais conhecido por "castro de Alvarelhos".